quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Capítulo Oito

Nós tivemos uma grande Reunião da Equipe do Câncer alguns dias depois. De vez em quando, médicos, assistentes sociais, fisioterapeutas e várias outras pessoas se reuniam em volta de uma mesa enorme numa sala de reunião e debatiam a minha situação. (Não a situação do Augustus Waters, nem a situação de Amsterdã. A situação do câncer.)
A Dra. Maria liderava a reunião. Ela me abraçou quando cheguei lá.
Ela adorava abraçar.
Eu me sentia um pouco melhor, acho. Dormir com o BiPAP a noite toda fazia meus pulmões parecerem quase normais, embora, pensando bem, eu não me lembrasse direito de como era a normalidade pulmonar.
Todos chegaram lá e fizeram uma grande demonstração de como aquela reunião seria totalmente focada em mim ao desligarem seus pagers e tudo mais, e então a Dra. Maria disse:
— Bem, a boa notícia é que o Falanxifor continua a controlar a evolução do tumor, mas obviamente ainda estamos vendo sérios problemas com a acumulação de líquido. Então, a questão é: como devemos proceder?
E aí ela simplesmente olhou para mim, como se esperasse uma resposta.
— Humm — falei. — Acho que não sou a pessoa mais qualificada nesta sala para responder a essa pergunta.
Ela sorriu.
— Certo. Eu estava esperando a resposta do Dr. Simons. Dr. Simons?
Ele era outro médico de câncer de algum tipo.
— Bem, nós sabemos, pela experiência com outros pacientes, que a maioria dos tumores acaba achando um jeito de evoluir apesar do Falanxifor, mas se fosse esse o caso, veríamos o crescimento do tumor nos
exames de imagem, e não foi o que vimos. Portanto, ainda não se trata
disso.
Ainda, pensei.
O Dr. Simons batia na mesa com o indicador.
— O consenso aqui é que é possível que o Falanxifor esteja piorando o edema, mas nós depararíamos com problemas muito mais sérios se descontinuássemos seu uso.
A Dra. Maria acrescentou:
— Não conhecemos os efeitos reais do Falanxifor após muitos anos de uso. Pouquíssimas pessoas vêm se tratando com ele a mesma quantidade de tempo que você.
— Então não vamos fazer nada?
— Vamos continuar com esse procedimento — a Dra. Maria disse —, mas precisaremos nos esforçar mais para evitar a piora do edema.
Fiquei meio enjoada por algum motivo que não sei qual, como se fosse vomitar. Eu odiava as Reuniões da Equipe do Câncer, em geral, mas odiei essa especialmente.
— Seu câncer não vai sumir daí, Hazel. Mas já vimos pessoas viverem com o mesmo nível de penetração tumoral por muito tempo. (Eu não perguntei o que constituía o "muito tempo". Já havia cometido este erro antes.)
— Sei que, por ter acabado de sair da UTI, a sensação é outra, mas esse líquido é, pelo menos por enquanto, administrável — ela concluiu.
— Não dá para simplesmente eu fazer tipo um transplante ou algo assim? — perguntei.
Os lábios da Dra. Maria sumiram para dentro da boca.
— Infelizmente, você não seria considerada uma forte candidata para um transplante — ela disse.
E eu entendi: não fazia sentido desperdiçar pulmões bons em um caso perdido. Assenti com a cabeça, tentando não deixar transparecer que aquele comentário havia me magoado. Meu pai começou a chorar baixinho. Não olhei para ele, mas ninguém disse nada por um bom tempo, e então o choro dele era o único ruído sendo emitido naquela sala. Eu odiava fazê-lo sofrer. A maior parte do tempo, conseguia não me lembrar disso, mas a verdade inexorável era: eles podiam estar felizes por me ter por perto, mas eu era o alfa e o ômega no sofrimento dos meus pais.


* * *


Logo antes do Milagre, quando eu estava na UTI e parecia que ia morrer, e a mamãe ficava me dizendo que estava tudo bem, que eu poderia descansar em paz — e eu bem que tentava descansar em paz, mas meus pulmões continuavam procurando pelo ar —, a mamãe soluçou algo no peito do papai que eu preferiria não ter ouvido, e esperava que ela nuncadescobrisse que eu ouvi. Ela falou: "Eu vou deixar de ser mãe." Isso
arrasou comigo.
Não consegui parar de pensar nesse episódio durante toda a Reunião da Equipe do Câncer. Não conseguia tirá-lo da cabeça, o som da voz dela quando disse a frase, como se nunca mais fosse ficar bem de novo, o que provavelmente aconteceria.


* * *


Enfim, acabamos resolvendo manter as coisas do jeito que estavam, a única diferença sendo as drenagens mais frequentes do líquido. Ao término da reunião, perguntei se poderia viajar para Amsterdã, e o Dr.
Simons riu, literalmente, mas a Dra. Maria perguntou:
— Por que não?
O Simons questionou, meio hesitante:
— Por que não?!
E a Dra. Maria completou:
— É. Eu não vejo por que não. Eles têm oxigênio nos aviões, no fim das contas.
O Dr. Simons disse: — Quer dizer que eles vão despachar um BiPAP?
E a Maria respondeu:
— Sim. Ou vão ter um lá esperando por ela.
— Colocar uma paciente, nada menos que um dos sobreviventes mais promissores do Falanxifor, a oito horas de voo da única médica intimamente familiarizada com o caso dela? É a receita para um desastre.
A Dra. Maria deu de ombros:
— Aumentaria alguns riscos — ela reconheceu, e depois virou para mim e completou:
— Mas é a vida dela.


* * *


Só que, nem tanto. No carro, na volta para casa, meus pais decidiram: eu não iria a Amsterdã a menos, e até, que houvesse um consenso entre os médicos de que seria seguro para mim.


* * *


O Augustus me ligou naquela noite depois do jantar. Eu já estava na cama — meu toque de recolher havia mudado provisoriamente para logo depois do jantar —, apoiada num zilhão de travesseiros, o Azulzinho do lado, computador no colo. Atendi falando logo:
— Má notícia.
E ele disse:
— Merda. O que aconteceu?
— Não posso ir a Amsterdã. Um dos meus médicos não acha que seja uma boa ideia.
Ele ficou calado por um instante.
— Cara — disse, por fim. — Eu deveria ter pago a viagem com o meu dinheiro. Deveria ter levado você direto dos Ossos Maneiros para Amsterdã.
— Mas aí eu provavelmente teria tido um episódio fatal de desoxigenação em Amsterdã, e meu corpo teria sido despachado de volta no compartimento de carga do avião — falei.
— É, pode ser — ele disse. — Mas, antes disso, meu gesto extremamente romântico com certeza teria levado você direto para a minha cama.
Eu ri muito, tanto que até senti dor no ponto em que o dreno torácico tinha estado.
— Você ri porque sabe que é verdade — ele disse e eu ri de novo. — É verdade, não é?!
— Provavelmente não — falei e, depois de alguns instantes, acrescentei: — Mas, nunca se sabe.
Ele gemeu, em ânsias:
— Eu vou morrer virgem — falou.
— Você é virgem? — perguntei, surpresa.
— Hazel Grace — ele disse —, você tem uma caneta e uma folha de papel? — Respondi que tinha. — Então tá. Desenhe um círculo, por favor.
— Desenhei. — Agora faça um círculo menor dentro dele. — Obedeci. —
O círculo maior representa os virgens. O círculo menor é composto por jovens de dezessete anos com uma perna só.
Ri mais uma vez e argumentei que o fato de a maior parte das atividades sociais dele ocorrerem num hospital pediátrico também não ajudava muito no quesito promiscuidade. Aí falamos sobre o comentário extremamente genial de Peter Van Houten quanto à meretricidade do tempo e, mesmo eu estando na minha cama e o Augustus, no porão dele, realmente deu a impressão de que estávamos de volta àquela terceira dimensão invisível, lugar que gostei muito de visitar na companhia dele.
Depois que desliguei o telefone, minha mãe e meu pai entraram no meu quarto e, mesmo a minha cama não sendo grande o suficiente para nós três, eles se deitaram comigo, cada um de um lado, e todos assistimos ao ANTM na minha televisãozinha. A garota de quem eu não gostava,
Selena, tinha sido eliminada do programa, o que por algum motivo me deixou bastante satisfeita. Então mamãe me conectou ao BiPAP e ajeitou as cobertas em cima de mim, papai beijou minha testa, um beijo arranhado, de barba malfeita, e, por fim, fechei os olhos. Basicamente, o que o BiPAP fazia era assumir o controle da minha respiração, o que era muito incômodo, mas o grande barato era o barulho que fazia, ressoando a cada inspiração e chiando quando eu expirava. Eu ficava pensando que aquele som parecia o de um dragão respirando ao mesmo tempo que eu, como se eu tivesse um dragão como bicho de estimação, aninhado junto a mim, e que se importava tanto comigo que até sincronizava sua respiração com a minha. Estava pensando nisso quando mergulhei num sono profundo.


* * *


Acordei tarde na manhã seguinte. Vi televisão ainda na cama, li meus emails e, depois de um tempo, comecei a rascunhar uma mensagem para o Peter Van Houten contando por que não conseguiria ir a Amsterdã, mas dizendo que jurava pela vida da minha mãe que nunca compartilharia qualquer informação sobre os personagens com ninguém, que eu nem queria dividir isso com ninguém, porque eu era uma pessoa incrivelmente egoísta, e que, por favor, será que ele poderia me dizer se o Homem das Tulipas Holandês é ou não um vigarista e se a mãe da Anna se casa com ele e, também, o que aconteceu com Sísifo, o hamster?
Mas não enviei. Era patético demais, até para mim.
Lá pelas três da tarde, imaginando que o Augustus já teria chegado em casa da escola, fui até o quintal e liguei para ele. Enquanto o telefone tocava me sentei na grama, que já estava bem alta e apinhada de dentesde-leão. O balanço ainda estava lá, ervas daninhas brotando da pequena vala que eu havia criado com os pés ao me impulsionar cada vez mais alto quando era bem novinha. Lembrei do dia em que papai trouxe para casa o kit de balanço da Toys "R" Us e montou aquele aparato no quintal com a ajuda de um vizinho. Ele insistiu em se balançar primeiro para testar a resistência do brinquedo, e o troço quase quebrou todo.
O céu estava cinzento e nublado, mas não chovia ainda. Desliguei quando ouvi a voz do Augustus na saudação da caixa postal e coloquei o telefone no chão ao meu lado. Continuei olhando para o balanço, pensando que eu abriria mão de todos os dias doentes que me restavam em troca de uns poucos saudáveis. Tentei me convencer de que poderia ser pior, que o mundo não era uma fábrica de realização de desejos, que eu estava vivendo com câncer e não morrendo por causa dele, que eu não deveria deixar que ele me matasse antes da hora, e aí comecei a murmurar idiota idiota idiota idiota idiota idiota sem parar até que o som da palavra se desassociou do seu significado. Ainda estava repetindo quando ele retornou a minha ligação.
— Oi — falei.
— Hazel Grace — ele disse.
— Oi — falei de novo.
— Você está chorando, Hazel Grace?
— Mais ou menos.
— Por quê? — ele perguntou.
— Porque eu… eu quero ir a Amsterdã, quero que ele me diga o que acontece depois que o livro acaba, e simplesmente não quero mais essa vida, e, além disso, o céu está me deixando deprimida, e tem esse velho
balanço aqui que meu pai montou para mim quando eu era criança.
— Preciso ver esse velho balanço de lágrimas imediatamente — ele disse. — Chego aí em vinte minutos.


* * *


Continuei no quintal porque minha mãe sempre ficava muito angustiada e preocupada quando eu chorava, já que eu não chorava com frequência, e sabia que ela ia querer conversar e debater se eu não deveria considerar fazer alterações nos meus remédios, e só de pensar na possibilidade dessa conversa toda fiquei com vontade de vomitar.
Não que eu tivesse uma lembrança clara e comovente de um pai saudável empurrando uma criança saudável no balanço e a criança dizendo mais alto mais alto mais alto, ou de algum outro momento metaforicamente ressonante. O balanço só estava lá, abandonado, as duas cadeirinhas, imóveis e tristes, penduradas de uma tábua acinzentada de madeira, o formato dos assentos parecendo o traço de um sorriso feito por
uma criança.
Atrás de mim, ouvi o ruído da porta de correr de vidro se abrindo.
Virei o corpo. Era o Augustus, com uma calça cáqui e uma camisa xadrez de manga curta. Enxuguei o rosto na manga da blusa e sorri.
— Oi — falei. Ele demorou um pouquinho para se sentar no chão ao meu lado, e fez uma careta ao aterrissar um tanto desajeitadamente de bunda.
— Oi — falou, por fim. Olhei para ele e vi que observava o quintal atrás de mim.
— Entendo o que você quer dizer — ele disse e passou o braço por cima dos meus ombros.
— Aquele é um pedaço de balanço triste e maldito. Aninhei a cabeça no ombro dele.
— Obrigada por se oferecer para vir aqui.
— Você sabe que tentar me manter a distância não vai diminuir o que eu sinto por você — ele disse.
— Talvez? — falei.
— Todos os esforços para me proteger de você serão inúteis — ele disse.
— Por quê? Por que é que você deveria sequer gostar de mim? Já não se colocou em situações difíceis assim o suficiente? — perguntei, pensando em Caroline Mathers.
O Gus não respondeu. Ele só ficou ali, me abraçando, os dedos firmes no meu braço esquerdo.
— Precisamos fazer algo a respeito desse raio de balanço — ele falou.
— Vou dizer uma coisa para você: ele é o responsável por noventa por cento do problema.


* * *


Assim que me refiz, entramos e sentamos no sofá, lado a lado, o laptop metade apoiado no joelho (de mentira) dele e a outra metade, no meu.
— Quente — comentei sobre o fundo do laptop.
— Está mesmo? — Ele sorriu.
Gus acessou um site de doações chamado Grátis Sem Pegadinha e juntos redigimos um anúncio.
— Título? — ele perguntou.
— Balanço Precisa de um Lar — falei.
— Balanço Extremamente Solitário Necessita de um Lar Amoroso — ele disse.
— Balanço Solitário e Ligeiramente Pedofílico Procura Bumbuns de Crianças — falei.
Ele riu.
— É por isso.
— O quê?
— É por isso que gosto de você. Você tem ideia de como é raro encontrar uma gata que use essa versão adjetivada do substantivo pedófilo?
Você está tão ocupada sendo você mesma que não faz ideia de quão absolutamente sem igual você é. Respirei fundo pelo nariz. Nunca havia ar suficiente no mundo, mas a carência dele naquele momento estava
particularmente crítica.
Escrevemos juntos o anúncio, fazendo as devidas edições às nossas ideias conforme íamos digitando. Por fim, acabamos com o seguinte texto:
Balanço Extremamente Solitário Necessita de Um Lar Amoroso
Um balanço bastante usado, mas em condições estruturalmente boas, procura um novo lar. Crie lembranças com seu filho, ou filhos, para que um dia ele, ou ela, ou eles olhem para o quintal e sintam o mesmo tipo de
sentimentalismo que experimentei esta tarde. Tudo é frágil e efêmero, caro leitor, mas com este balanço seu filho conhecerá os altos e baixos da vida devagar e com segurança, e também poderá aprender a lição mais crucial de todas: não importa quão forte seja o impulso, não importa o quão alto se chegue, não será possível dar uma volta completa. O balanço reside atualmente na Rua 83, quase esquina com a Spring Mill.
Depois disso ligamos a televisão por um tempo, mas não conseguimos achar nada que nos interessasse, então peguei o exemplar de Uma aflição imperial da mesa de cabeceira, levei o volume para a sala de estar e o Augustus Waters leu algumas páginas para mim, enquanto mamãe, que preparava o almoço, escutava.
— "O olho de vidro da mãe da Anna virou ao contrário" — o Augustus começou.
Enquanto ele lia, me apaixonei do mesmo jeito que alguém cai no sono: gradativamente e de repente, de uma hora para outra.


* * *


Quando verifiquei meus e-mails uma hora depois, descobri que havia vários candidatos para o balanço dentre os quais poderíamos escolher. No fim, selecionamos um cara chamado Daniel Alvarez, que anexou uma foto de seus três filhos jogando videogame e, no assunto do e-mail, escreveu:
Só quero que eles brinquem ao ar livre. Respondi à mensagem dizendo que poderia buscar o balanço quando bem entendesse.
O Augustus me perguntou se eu queria ir com ele à reunião do Grupo de Apoio, mas eu estava muito cansada, depois de passar um dia inteiro ocupada Tendo Câncer, por isso declinei do convite. Estávamos no sofá quando ele empurrou o corpo para cima, para se levantar, mas acabou caindo sentado de novo e me tacou um beijo na bochecha.
— Augustus! — exclamei.
— Beijo de amigo — ele disse. Empurrou o corpo para cima novamente, dessa vez permanecendo de pé, e então deu dois passos na direção da minha mãe. — É sempre um prazer vê-la — ele disse, e minha
mãe abriu os braços para lhe dar um abraço, no que o Augustus se inclinou e deu um beijo na bochecha dela. E se virou para mim: — Viu? — perguntou.
Fui para a cama logo após o jantar, o BiPAP suprimindo o mundo que ficava do lado de fora do meu quarto.
E nunca mais vi o balanço.


* * *


Dormi bastante tempo, dez horas, provavelmente por causa do processo lento de recuperação, provavelmente porque o sono combate o câncer e provavelmente porque eu era uma adolescente sem hora certa para acordar. Ainda não me sentia forte o suficiente para voltar a frequentar as aulas no MCC. Quando, enfim, tive vontade de levantar, tirei a máscara do BiPAP do nariz, coloquei o cateter do oxigênio nas narinas, liguei o aparelho e tirei o laptop de debaixo da cama, onde o tinha guardado na noite anterior. Lá havia um e-mail da Lidewij Vliegenthart.

Cara Hazel,

Recebi uma mensagem dos Gênios dizendo que você virá nos visitar com Augustus Waters e sua mãe, chegando aqui no dia 4 de maio. Em apenas uma semana! Peter e eu estamos encantados e não vemos a hora de conhecê-los pessoalmente. Seu hotel, o Filosoof, fica a apenas uma rua da casa do Peter. Talvez devêssemos dar um dia para que vocês se recuperem dos efeitos do jet lag? Sendo assim, se for conveniente, nós os encontraremos na casa do Peter na manhã do dia 5 de maio, talvez às dezhoras, para uma xícara de café e para que ele responda às perguntas que você quer fazer sobre o livro dele. E, depois disso, nós poderíamos talvez fazer uma visita a um museu ou à Casa de Anne Frank.

Cordialmente,
Lidewij Vliegenthart 

Assistente-executiva do Sr. Peter Van Houten, autor de Uma aflição imperial — Mãe — falei. Ela não respondeu. — MÃE! — gritei. Nada. De novo, mais alto: — MÃE!
Ela veio correndo enrolada numa toalha cor-de-rosa velhinha, toda pingando, ligeiramente em pânico.
— O que aconteceu?
— Nada. Foi mal. Eu não sabia que você estava tomando uma chuveirada.
— Eu estava na banheira — ela disse. — Só estava… — Fechou os olhos. — Só estava tentando tomar um banho de banheira de cinco segundos. Perdão. O que está havendo?
— Você poderia ligar para os Gênios e dizer a eles que a viagem foi cancelada? Acabei de receber um e-mail da assistente do Peter Van Houten. Ela acha que vamos até lá.
Mamãe franziu os lábios e passou por mim com os olhos semicerrados.
— O quê? — perguntei.
— Não era para eu dizer nada até seu pai chegar.
— O quê? — perguntei de novo.
— A viagem está de pé — ela disse, por fim. — A Dra. Maria nos ligou ontem à noite e nos convenceu de que você precisa viver a sua…
— MÃE, EU TE AMO TANTO! — gritei.
Ela foi até a minha cama e deixou que eu a abraçasse.
Mandei um torpedo para o Augustus porque sabia que ele estava na escola:

Ainda disponível dia três de maio? :-)

Ele respondeu na mesma hora.
Está tudo indo às mil maravilhas para o meu lado.
Se ao menos eu conseguisse ficar viva por uma semana, conheceria os segredos não publicados da mãe de Anna e do Homem das Tulipas Holandês. Dei uma espiada na minha blusa, na altura do peito.
— Vocês têm de se comportar — sussurrei para meus pulmões

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