quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Natal

TODO MUNDO FOI PRA CASA no Natal – até mesmo Alasca, supostamente sem-teto.
Ganhei um relógio bacana e uma carteira nova - “presentes de adulto”. Meu pai disse. Mas, naquelas duas semanas, passei a maior parte do tempo estudando. O feriado de Natal não era bem um feriado, visto que era nossa última oportunidade de estudar para as provas, que começavam logo no primeiro dia de volta as aulas que mais ameaçam meu objetivo de ficar com media 9,0. Queria poder dizer que estava estudando porque gostava de aprender, mas a verdade que estava estudando para conseguir entrar numa boa faculdade.
Então passei a maior parte do tempo trancado em casa, estudando pré calculo e decorando o vocabulário de francês, exatamente como fazia antes de Culver Creek. As duas semanas em casa não foram muito diferentes do resto de minha vida antes do colégio interno, exceto que meus pais estavam mais emotivos. Embora eu tivesse querido passar feriado de Ação de Graças em Culver Creek, eles se sentiam culpados. É bom ter pessoas que sintam culpados por sua causa, se bem que eu poderia ter sobrevivido sem a choradeira de minha mãe nos jantares de família. Ela dizia: “Sou uma péssima mãe”, e meu pai logo recrutava: “Não, é não.”
Até meu pai, que é afetuoso, mas não chega a ser emotivo, disse gratuitamente, enquanto assistíamos aos Simpsons, que sentia minha falta. Eu disse que também sentia falta dele, e era verdade. Mais ou menos. Eles são tão bonzinhos. Fomos ao cinema e jogamos baralho, eu lhes contei as historias que podia contar sem horrorizá-los, e eles ouviram. Meu pai, que era corretor de imóveis e lia mais livros do que qualquer pessoa que eu conhecia, conversou comigo sobre os livros da aula de inglês, e minha mãe insistiu para que eu me sentasse na cozinha e aprendesse a fazer pratos simples – macarrão instantâneo e ovos mexidos - agora que eu estava “morando sozinho”.
Mesmo que eu não tivesse, ou quisesse, uma cozinha. Mesmo que eu não gostasse de ovos ou de macarrão instantâneo. Quando chegou o Ano Novo, eu já tinha aprendido a preparar um tanto quanto o outro.
Quando fui embora, os dois choraram, minha mãe explicando que era apenas a síndrome do ninho vazio, que estavam muito orgulhosos de mim e que me amavam muito. Aquilo me deu um nó na garganta, e eu esqueci o feriado de Ação de Graças. Eu tinha uma família.

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