quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Quarenta e seis dias antes

FOI A MELHOR CEIA DE AÇÃO DE GRACAS que eu tive. Nada daquela porcaria de molho doce. Apenas fatias enormes de carne branca e úmida, milho, vagem com gordura de bacon suficiente para deixar aquele gostinho de “faz mal”, biscoito com molho, torta de abobora e um copo de vinho tinto para cada um.
— Acho, — disse Dolores, — que o certo é comer peru com vinho branco. Bem, não sei o que vocês pensam disso, mas estou me lixando.
Nós rimos e bebemos nossos vinhos, e, depois da refeição, cada um listou suas graças ao Senhor. Minha família costumava agradecer antes a ceia, rezávamos com pressa para poder comer logo. Então, nós quatro, sentados à mesa, compartilhamos nossa bênçãos. Eu agradeci por ter boa comida, boa companhia e um lugar onde passar o Dia de Ação de Graças. — Um trailer, pelo menos, — brincou Dolores.
— Certo, minha vez, — Alasca disse. — Agradeço por ter tido o melhor Dia de ação de graças dos últimos dez anos.
Então o Coronel disse:
— Agradeço unicamente por você, mãe.
Dolores riu e disse: — O barato sai caro, filho.
Eu não tinha certeza do que aquilo queria dizer, mas acho que era algo como: “Isso não é adequado”, porque logo depois o Coronel expandiu sua lista e agradeceu por ser “o ser humano mais inteligente daquele camping”. Dolores riu e disse: — Melhorou.
E quanto a Dolores? Ela agradeceu pelo fato de a linha telefônica estar funcionando novamente, por seu filho estar em casa, por Alasca tê-la ajudado a cozinhar, por eu ter mantido Coronel fora da cozinha, por ter seguranças e bons colegas em seu emprego, por ter um lugar para dormir e um filho que amava.
Na viagem de volta, sentei-me no banco traseiro do carro compacto e foi assim que me veio aquele pensamento: de casa – e adormeci com o acalanto monótono da rodovia.

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