quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Trinta e sete dias depois

NA QUARTA-FEIRA SEGUINTE, esbarrei com a Lara depois da aula de Religião - literalmente. Eu já a tinha visto é claro. Eu a via quase todos os dias -na aula de inglês ou sentada na biblioteca, cochichando com Katie, sua colega de quarto. Eu a via durante o almoço e durante o jantar no refeitório, e provavelmente a teria visto durante o café da manhã se alguma vez eu tivesse acordado a tempo de comer. E ela também me via, é claro, mas, até aquela manhã, não tínhamos olhado um para o outro ao mesmo tempo.
Àquela altura, pensei que ela já tivesse me esquecido. Afinal, só tínhamos namorado por cerca de um dia, embora tivesse sido um dia cheio de acontecimentos. Mas, quando esbarrei em seu ombro esquerdo, tentando abrir caminho até a sala de Pré-Cálculo, ela deu meia-volta e olhou para mim. Furiosa, mas não por causa do encontrão.
— Desculpa, — eu deixei escapar. Ela simplesmente olhou para mim, com os olhos semicerrados, como se estivesse prestes a brigar ou chorar, e desapareceu silênciosamente na sala de aula. A primeira palavra que eu lhe disse em um mês.
Queria ter vontade de falar com ela. Sabia que tinha algo mal. 'Imagine', eu repetia comigo, 'se você fosse a Lara, com uma amiga morta e um ex-namorado silencioso', mas eu só tinha espaço para uma única vontade verdadeira, e ela estava morta. Eu queria saber o “como” e o “por quê” daquilo. Mas Lara não saberia me dizer, e isso era tudo o que importava.

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