quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Um dia antes

NA MANHÃ DO DIA SEGUINTE, uma expressão que estou utilizando no sentido lato, pois não tinha amanhecido, o Coronel me acordou à base das sacudidelas. Lara estava aninhada em meus braços, aconchegadas em meu corpo.
— Temos de ir, Gordo. Hora de fazer as malas.
— Estou dormindo, cara.
— Você pode continuar dormindo depois de marcarmos presença. TEMOS DE IR! — ele gritou.
— Está bem. Está bem. Não grita. A cabeça está doendo. — Estava mesmo. Eu ainda sentia o vinho da noite anterior na garganta, e a cabeça latejava como no dia seguinte à concussão. Parecia que um gambá tinha entrado em minha boca e morrido lá dentro. Tentei não respirar em cima de Lara enquanto ela se soltava do saco de dormir, ainda sonolenta.
Fizemos as malas rapidamente, jogamos as garrafas vazias no matagal – era preciso fazer este tipo de sujeira na Creek, porque ninguém queria colocar suas garrafas de bebidas nas lixeiras do campus – e nos afastamos do celeiro. Lara pegou minha mão, depois a soltou timidamente. Alasca estava com uma cara horrível, mas fez questão de pingar as últimas gotas de Strawberry Hill em seu café instantâneo frio antes de jogar a garrafa por sobre os ombros.
— Remédio, — ela disse.
— Como você está? — o Coronel lhe perguntou.
— Já tive manhãs melhores.
— Está de ressaca?
— Como um pastor alcoólatra numa manhã de domingo.
— Acho que você não deveria beber tanto assim, — sugeri.
— Gordo. — Ela balançou a cabeça e bebericou um pouco do seu café gelado com vinho. — Gordo, você precisa entender que eu sou uma pessoa profundamente infeliz.
Caminhamos lado a lado pela estrada de terra desbotada a caminho do campus. Pouco antes de chegarmos à ponte, Takumi parou e disse: — Essa não, — caiu de quatro e vomitou como um vulcão de lava amarela e rosa.
— Deixa sair, — Alasca disse. — Vai ficar tudo bem.
Ele terminou, ficou de pé e disse: — Finalmente descobri a fraqueza da raposa. A raposa não pode com Strawberry Hill.
Alasca e Lara foram cada uma para o seu quarto, pretendendo marcar presença com o diretor mais tarde, ao passo que Takumi e eu ficamos de pé atrás do Coronel enquanto ele batia à porta do Águia às 9h da manhã.
— Chegaram cedo. Foi divertido?
— Sim senhor, — o Coronel disse.
— Como está sua mãe, Chip?
— Está bem, senhor. Está bem de saúde.
— Alimentou vocês direitinho?
— Alimentou, senhor”, eu disse. “Tentou me engordar.
— Você está precisando. Tenham um bom dia.
— Bem, acho que ele não suspeitou de nada, — o Coronel disse enquanto caminhávamos de volta para o Quarto 43. — É possível que tenhamos nos safado. — Pensei em visitar a Lara, mas estava muito cansado, então fui para a cama e dormi até passar a ressaca.
Foi um dia meio parado. Eu deveria ter feito coisas extraordinárias. Deveria ter chupado o tutano da vida. Mas, naquele dia, dormi dezoito das vinte quatro horas possíveis.

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