quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Vinte e oito dias depois

O CORONEL CONSEGUIU ir para a aula de latim na manhã seguinte.
— Estou me sentindo ótimo agora, porque ainda estou bêbado. Mas daqui a algumas horas vai ser um inferno.
E eu fiz uma prova de Francês para a qual tinha estudado um petit peu. Até que me saí bem nas questões de múltipla escolha (do tipo qual-tempo-verbal-se-encaixa-melhor-na-frase), mas a questão discursiva Em Le Petit Prince, qual o significado da rosa? Me pegou um pouco desprevenido.
Se eu tivesse lido O pequeno príncipe em francês ou em qualquer outra língua, acho que a pergunta teria sido bastante fácil. Mas, infelizmente, eu tinha passado a noite embebedando o Coronel. Então, respondi, Elle symbolise l’amour [simboliza o amor]. Madame O’Malley tinha nos deixado uma pagina inteira para responder à questão, mas achei melhor resumir uma página inteira em três palavras.
Eu estava acompanhando as aulas só para tirar um B- e não preocupar meus pais, mas a verdade é que eu não estava lá muito interessado naquilo. O significado da rosa? Qual o significado das tulipas brancas? Eis uma pergunta que valia a pena responder.
Depois de receber um sermão e dez horas de trabalho forçado no Júri, voltei para o Quarto 43 e o Coronel estava contando tudo para o Takumi – bem, tudo menos a parte do beijo. Caminhei até o Coronel e disse:
— Então ajudamos a Alasca a ir embora.
— Vocês armaram as bombinhas, — ele disse.
— Como sabe sobre as bombinhas?
— Andei investigando por conta própria, — Takumi respondeu. — Bem, foi uma idiotice. Vocês não deveriam ter feito isso. Mas acho que todos nós a deixamos ir embora, — e eu me indaguei que diabos ele quisera dizer com aquilo, mas não tive tempo de perguntar, pois logo depois ele disse: — Acham que foi suicídio?
— Talvez, — eu disse. — Não acho que ela teria batido no carro de polícia por acidente, a menos que estivesse dormindo.
— Talvez quisesse visitar o pai, — Takumi disse. — Vine Station fica a caminho.
— Talvez, — eu disse. — Tudo é um talvez, não é?
O Coronel tirou um maço de cigarros do bolso.
— Bem, então lá mais um: talvez o Jake tenha uma resposta, — ele disse. — Já esgotamos nossas estratégias. Vou ligar para ele amanhã, está bem?
Àquela altura, eu também queria respostas, mas não para certas perguntar.
— Tudo bem, — eu disse. — Mas olha só – não me conte nada que não seja relevante. Só estou interessado no que ajudar a descobrir aonde ela estava indo e por quê.
— Eu também, — Takumi disse. — Acho que algumas coisas devem continuar em segredo.
O Coronel enfiou uma toalha embaixo da porta, acendeu um cigarro e disse: — Então está bem, rapazes. Vamos focar no que é realmente relevante.

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